domingo, 20 de fevereiro de 2011

Medo particular.

Mal abri os olhos pude reparar a porta do quarto entreaberta. Um feixe de luz passava por ela.
Olhei a janela e ainda estava escuro. Apressei-me em verificar as horas e não passavam das quatro da madrugada.
Levantei-me e fui caminhando em direção a porta. Ao empurrá-la percebi que a luz vinha da cozinha.
Ainda sonolento tentava me lembrar o que havia feito antes de adormecer.
Quando cheguei na cozinha te avistei, abaixada vasculhando a geladeira.
Pus-me a rir.
"Ladra de geladeira. Estás faminta a essa hora?"
Mas você parecia não me dar atenção.
Ou fingia não me ouvir.
Observava um certo desespero nos teus gestos, e comecei a ficar preocupado.
Caminhei na sua direção.
Foi quando de repente, em um movimento rápido, você se virou e passou ao meu lado sem nem me ver.
Saiste correndo em direção ao resto da casa.
"Ela está brincando comigo, não está me vendo?"
Te persegui pela casa, e você ainda fingia não me ver.
A campainha tocou, foste a porta atender. Era um outro homem.
Fiquei curioso.
"Como? Quem será esse?"
Ambos então começaram a correr a casa. Ela gritava com ele. Mas eu não conseguia escutar nada do que ela falava.

"Nossa! É um assalto? Ele deve estar me roubando."
Comecei a gritar desesperado. Clamava socorro aos vizinhos. E parecia que ninguém me escutava.

Até que na porta surgiu o Seu Fernando. Pálido. Ofegante.
Veio na minha direção.
"Graças a Deus seu Fernando. O senhor me ouviu. Há um homem lá dentro, ele deve estar me roubando. Estão tentando me roubar."
O seu Fernando correu para dentro da casa a procura dos dois.
Corri em direção a eles.
Na porta surgiram outras pessoas, pareciam curiosas, agora ele não tinha mais para onde fugir.
A casa estava cercada.
Procurei o meliante, mas não os via mais. Fui até o quarto.
Quando cheguei, ela estava deitada chorando. Se ele tivesse encostado um dedo nela, eu o mataria.
Seu Fernando vinha saindo do banheiro todo ensopado.

"Seu Fernando? O que o senhor fez? Matou o bandido?"
Corri a porta do banheiro.

Lá estava o rapaz todo de branco me segurando no colo.

"Como pode ser possível. Eu estou aqui!"
Olhava para trás e a minha amada chorava.

Agarrou-se no meu casaco. Um preto que havia deixado de recordação para ela antes da minha partida.

"Agora me lembro! Cheguei ontem de viagem. Nos amamos. Deitamos para dormir. Ela me pediu o meu perfume para reviver o meu casaco. Depois disso, ela se virou, deixou o casaco na mesa de cabeceira e me abraçou, sussurrou no meu ouvido. - Tão melhor abraçar o original - . Depois de três anos de espera eu havia retornado."
Entrou pela porta uma amiga nossa. A abraçou. Choraram por um tempo juntas.

Eu caído no banheiro e eu aqui assistindo.
E ela: "- Ele voltou amiga, voltou e se foi na mesma noite. Me disse apenas boa noite. Olhou nos meus olhos, respirou fundo, uma última vez ajeitou os meus cachos. Não precisava dizer mais nada. Sabíamos que éramos um do outro. Nos amamos. Sempre nos amaremos."
Ajoelhei-me no chão. Levantei as mãos aos céus e fechei os olhos.
Minha última promessa de vida estava cumprida.
"Te amei até os últimos minutos do meu existir!"
(Silêncio-me!)

4 comentários:

  1. Arrepiei, muito lindo o texto. Parabéns, você é ótimo!

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  2. Nossa, que profundo. Achei meio confuso só, mas li rapidão, é que já já tô voltando pra escola, haha! Mas curti. Muito lindo o amor do rapaz!

    Beijos.

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  3. Passada, lindo texto, vc escreve super bem, Parabéns!

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  4. Uau, muito bonito texto. Meio confuso a parte em que gritam e ningue ouve nada, mas a história em si é muito bonita.
    Como consegue escrever coisas assim?

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PAPOS E SUPAPOS

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