terça-feira, 28 de janeiro de 2014

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sem amanhã.

Ele tinha um metro e sessenta e pouco, não chegava nem a um metro e setenta de altura. Não tinha abdômen dividido e muito menos músculos que saltavam corpo afora.
Nunca se destacou em nada o que fazia, pois o que ele gostava de fazer e fazia muito bem, sempre manteve em segredo. Fora essa atividade, um tanto estranha aos olhos dos outros garotos da escola, nas outras ele era apenas mais um.
Certo início de ano, eis que surge um sorriso cativante, olhos que brilhavam ao longe e que faziam os olhos dele brilhar junto.
Aproximaram-se.
Tornaram-se ótimos amigos.
O tempo passara.
Ela namorava o cara mais bonito da escola, atleta, com o carro do ano.
Ele não saia com ninguém e, quando saia, era por mera distração, não havia como se apegar.
Um amigo em comum insistiu em dizer a ele que ela gostava de luxo e se preocupava com aparência. Ele tinha certeza que não.
Certa vez, ela chegara tristonha à escola, sentou-se ao seu lado e se desmanchou em lágrimas.
Ele, como sempre fez ao longo dos anos de amizade, emprestou o seu ombro, dedicou um pouco mais do seu tempo e se dispôs a entender o que estava acontecendo.
Conversaram, nesse dia, mais do que o comum.
Encontraram-se por volta de seis e meia da manhã e só saíram de perto um do outro lá para as sete da noite.
No fim do dia, antes de se despedirem, após entender que as lágrimas haviam sido pelo término da relação, ele olhou-a bem no fundo dos olhos e de uma única vez, sem usar pontos, vírgulas ou qualquer outra pontuação que pudesse interromper o que ele tanto queria falar, derrubou sobre ela um turbilhão de sentimentos e emoções.
Disse o que sentiu desde o primeiro sorriso, mesmo que não tenha sido para ele.
Abraçou-a forte no fim e disse:
"Não te magoarei nunca. Estarei sempre aqui. Sempre por perto. Sempre tentando te arrancar ao menos um sorriso diário."
Ela chorou, mas no fim, sorriu.
Ela fora embora cheia de dúvidas, cheia de incertezas. Dois anos e meio de amizade que se tornaram puro mistério após tantas confissões.
Dormiram, ao menos tentaram.
Ela não pregara os olhos a noite inteira e, já no início da manhã, decidida a tirar algumas dúvidas com ele, correu para a escola.
Ele, sonâmbulo ao longo da madrugada, foi a beira-mar tocar violão e, quando se deu conta, o sol começara a brilhar no horizonte, correu para a escola sabendo que iria se atrasar.
O baile de formatura estava próximo.
"Talvez ela aceite vir comigo!" - Pensava ele.
Se encontraram na entrada da escola, ela o pegou pelo braço e o arrastou até um canto escondido de todos os olhos para que pudesse conversar e contar alguns segredos.
Disse-lhe que tinha medo de ser novamente magoada e que já vivera situações parecidas antes.
Também disse que não queria magoá-lo e que não queria perder o contato com ele pois gostava muito de tê-lo como amigo.
Ele a olhou nos olhos e repetiu o que já havia dito no dia anterior. No fim da repetição incluiu a pergunta.
"Quer ir ao baile comigo?"
Ela pensou e negou o pedido.
Assumiu com os olhos e com essa atitude ter medo do que poderia acontecer.
Se separaram ao longo da manhã.
Ela foi embora sem nem dizer adeus. Correu. Entrou no carro do ex-namorado e pegou uma carona.
Ele? Bom! Ele chorou!
Decidiu caminhar até em casa, um percurso de mais ou menos quarenta e poucos minutos.
Enquanto caminhava, notou uma correria e tentou se proteger.
Tarde demais.
Fora alvejado por uma bala "perdida" que encontrara o seu corpo.
Pessoas o socorrem. A família corre. Hospital, UTI, ...
Ela mais uma vez, após ter trocado uns dois ou três beijos, sai do carro do ex-namorado e diz que tudo não passou de um erro, que eles não poderiam mais repetir isso.
Seu pensamento já não estava mais naquela relação. Ela já havia sido contaminada por outro sentimento.
Ele na mesa de cirurgia. Ela com o pensamento nele.
No dia seguinte ela chega na escola e o procura por todos os corredores. Pergunta a todos os que o conheciam. Acabou notando que pouquíssimos sabiam quem era ele.
Recorreu a direção e foi surpreendida com a mãe dele na escola.
Ela carregava um bilhete na mão.
Quando reconheceu-a, entregou o tal bilhete com os olhos cheios de lágrimas.
Ela pegou o bilhete e o leu:
"Não queria te magoar. Me perdoa. Adoro você!".
Ele faleceu.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Som da vida.

Ontem chegou a minha máquina de escrever.
Acreditam?
É verdade! Cometi esse ato insano de comprar uma.
E ontem, lá pras tantas do fim da tarde, já perto do sol se pôr, realizei um desejo que tinha.
Fui até a beira do mar, sentei-me e comecei a digitar.
Os sons das ondas do mar, os sons das teclas a clicar, aquele sino do retorno do papel...
Pessoas passavam...
Pessoas paravam...
Pessoas olhavam...
Conforme o sol ia descendo, mais gente ia juntando.
Mais teclas eu ia apertando.
Uma pessoa chegou perto de mim e me perguntou o que eu estava escrevendo e porque uma máquina de escrever.
Fiquei surpreso ao ver que se tratava de uma senhora de idade beirando lá os seus noventa e tantos anos.
Ri da pergunta e respondi com outra pergunta que a fez parar e apenas observar o tempo passar.
"Porque não?"
Educadamente ainda respondi que estava escrevendo pensamentos.
Ela apenas sorriu e parou para escutar.
As pessoas pareciam hipnotizadas com aquele aparelho "novo" que eu estava portando.
Alguns jovens ficavam abismados querendo saber do que se tratava.
E o novo para eles tão velho para aquela senhora em tão pouco tempo se tornara algo corriqueiro para mim.
Mas o som...Ah! Aquele som! Insubstituível.
Enquanto eu digitava sem ter noção do que eu escrevia, mais gente juntava.
O sol terminou o seu espetáculo, o mar pareceu se acalmar de repente pois as ondas deixaram de ser ondas e tornaram-se aquelas marolas silenciosas, as pessoas foram embora...
E eu?
Bom, eu parei de digitar.
Quis escutar o silêncio e ler o que eu havia escrito.
Curiosos?
Pois não, replico o que estava naquela folha.

"Amo o som da vida! Obrigado por me escutar também!"

Pouco? Se não tivesse repetido por cem vezes a mesma frase, também acharia!
Viva, ouça, agradeça!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Surpresa em vista!

Me impressiona a forma com que passa o tempo e o teu sorriso não muda.
Ainda me causa o mesmo efeito.
De sorrir feito um bobo no meio do nada.
E agora estou rindo na frente do computador novamente.
Relembro histórias, regressões, mapas, contos...
E acabo por sorrir.
E lá se vão quase três anos do teu existir em mim.
E como certa vez eu falei, se fosse preciso esperar quatro anos para voltar a jogar, aqui estou eu.
Antecipando o recomeço.
Jogo gostoso esse em que me meti.
Onde o mundo passa pela gente, tantos passos pelo mundo, tantas idas e vindas, que no fim me trazem você!
Lá se foram três anos desde o primeiro sorriso virtual.
E já estão chegando os três anos do primeiro sorriso real.
Continuamos sendo regidos pelo teu signo, essa dualidade do que é real e virtual só me dá a certeza de que somos reais mesmo sendo um tanto quanto virtuais.
Sinto a necessidade de ter você por perto, mesmo que distante, sempre.
Então, seguindo o conselho do meu amigo Pedro, aquele lá do sertão.
Dessa vez se prepara, que o jogo é pra valer.
E nessa brincadeira de esconder eu já sei onde te encontrar.
Já sei onde te ver.
Já sei o que sentir.
Só não sei como falar.
Te peço então um favor!
Fica, não se espante ao me ver chegar e nem com o que vai escutar.
Deixa eu segurar a tua mão para a coragem poder gritar dentro de mim.
E dos seus olhos eu não conseguir mais fugir.
Bom dia fada.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Apenas mais uma foto.

Distante do mundo posso observar o nascer de mais um dia.
O tom alaranjado em um canto do céu faz um contraste perfeito com o negro do outro lado.
E, em um passe de mágica, o clarear do negro ao azul, passando por vários estágios.
Assim tem sido o dia a dia.
Caminho em linha reta às quatro e pouca da manhã cerca de cem metros até a areia, sento-me e espero.
Muitos que passam cedo para ir ao trabalho e outros tantos voltando das festas que ocorrem na localidade se imaginam o porque de, ao invés de eu olhar o céu, sento-me na areia com os olhos fechados.
Explico a muitos deles diariamente.
"Não existe sensação mais gostosa do que estar no breu e, de repente, sentir um calor te tocar a pele suavemente. Vocês deveriam experimentar essa sensação."
Alguns dão risada.
Outros perguntam que festa eu estava.
Outros apenas tocam o meu ombro e vão embora.
Mas ontem não foi assim.
Ontem em especial uma pessoa tocou o meu ombro e pude sentir a presença dela ao meu lado até o momento de o calor do sol nos tocar.
Ainda de olhos fechados, senti surpreso que a mão que estava em meu ombro descera ao encontro da minha mão.
Parecia mágica.
Primeiro o toque daquela pele macia, um toque suave no ombro com aquela voz doce dizendo-me que nesse amanhecer iria me acompanhar.
Depois aquele abraço inesperado juntamente com o calor do sol.
O rosto dela sobre o meu ombro encostando delicadamente sua bochecha à minha.
Uma sensação indescritível.
Se a melhor sensação do mundo era sentir o calor do sol clareando aquele breu o qual eu me encontrava, a melhor passou a ser a sensação do seu calor junto ao meu somado ao calor do sol.
Recomendo essa sensação a todos.
Ficamos ali, por alguns minutos ainda de olhos fechados. Dedos se "carinhando" e respirações simultâneas.
Parecíamos uma orquestra sinfônica das mais afinadas com a natureza.
Lá ao longe o som das marolas no mar. Com uma pequena concentração maior, os primeiros canários a cantar.
E foi assim aquele amanhecer.
Num momento ainda mais mágico viramos nossos rostos, um de frente ao outro, e ainda de olhos fechados deixamos os nossos lábios se tocarem.
Loucura não é?
Não a conhecia. Nunca a tinha visto na minha vida.
As únicas coisas que sabia a seu respeito até aquele beijo eram sua pele macia, seu rosto lisinho, pude sentir seus cabelos voando e por vezes encostando em meu rosto, sabia também que a sua voz era doce, mas, não havia mais nada, não tinha como saber.
Mas deixei os meus lábios me guiarem.
Encontrei lábios finos, beijos delicados.
E quando paramos de nos beijarmos, fiz um pedido: "Já que estou em desvantagem, já que você me viu e eu não te vi, permaneça de olhos fechados, deixa eu ver você sem que me veja."
Ela balançou a cabeça confirmando que faria isso.
Então com as pontas dos meus dedos percorri todo o rosto dela, pude sentir seus cílios enormes, seu nariz empinado, seus cabelos ondulados.
Nossos toques eram tão singelos que eu não precisava abrir os olhos ver quem estava a minha frente.
Então ela me perguntou: "Já posso abrir os meus olhos!"
Confirmei balançando a cabeça tal qual ela fez.
Então a surpresa: "Mas você ainda está de olhos fechados!" - Disse-me ela.
"Pois bem, ainda estou, e permanecerei assim até a eternidade. Tinha a minha visão normal até semanas atrás, quando, de uma hora para a outra, a perdi. Fui a diversos médicos e ainda estou realizando alguns exames. Coisas da vida sabe? Tive amores, tive uma carreira, tive uma vida maravilhosa até então. No dia que eu acordei e não conseguia mais enxergar nada todos acharam que eu iria desistir da vida, todos imaginaram que eu morreria de desgosto. Eu era fotógrafo, minha visão era a minha forma de criar a minha arte. Mas não me abalei. Nunca precisei dos olhos abertos para criar a minha arte. Sempre a inventei na minha mente e depois a colocava em prática e, sei que ainda sou capaz de fazer isso."
Nesse momento senti, no rosto daquela jovem, um líquido escorrendo.
"Acredito que as coisas aconteçam no momento certo. Sempre!" Disse a ela.
Pude sentir um sorriso no rosto dela, mesmo em meio a tantas lágrimas.
"Sabe, perdi meu pai a alguns meses, ele era diabético, com o tempo a doença foi deixando sequelas e uma delas, foi a cegueira. Meu pai não me reconhecia mais. E mesmo assim, até os últimos dias dele, estive ao seu lado. Na última noite junto com ele, no último jantar com meu pai ao meu lado ele me disse: - Filha, as coisas acontecem no momento certo. Sei que por vezes acabei te machucando por não te reconhecer, mas quando você me dizia que era você entrando no quarto, meu peito se enchia de alegria, te amarei eternamente e incondicionalmente. Obrigado por todo bem que você sempre me fez, agora me prometa, você vai viver a sua vida da mesma forma que eu vivi a minha, intensamente! - E eu prometi." Contou-me ela.
Nesse momento as lágrimas delas já estavam misturadas às minhas tal qual os sorrisos. E ela continuou.
"Tenho que te confessar, já é a terceira noite que passo por você e sempre comentei com as minhas amigas que ainda iria parar pra falar! Elas estão todas sentadas lá atrás me esperando. Algumas estão nos olhando agora sem entender o que está acontecendo. E eu preciso te admitir, em meio as minhas férias, você, esse momento, foi o que melhor poderia ter acontecido. Obrigado mesmo. Talvez você seja um anjo e eu nunca mais te veja. Mas espero que possamos nos ver outra vez."
Foi quando encostei o dedo indicador nos lábios dela e agradeci dizendo.
"Obrigado a você por parar, por estar e por sempre permanecer aqui."
Trouxe a mão dela até o meu peito.
"Já que fez a promessa ao teu pai, prometa-me, viva a sua vida intensamente!"
Chorando ela confirmou com a cabeça.
Um último beijo foi dado, um último abraço apertado.
Um último toque foi tocado. A última despedida.
Mais uma foto foi registrada!

PAPOS E SUPAPOS

Mi Papos y Su papos!

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