quinta-feira, 24 de março de 2011

Último ato.

Ontem joguei tantas coisas fora. Lembra-te daquelas dores as quais te contei? Descobri de onde elas vinham. Estavam todas guardadas em uma caixinha que eu insistia em guardar embaixo da cama. Nessa caixa continham os meus maiores sonhos de infância. Daqueles completamente impossíveis do tipo - "Eu quero ser um super-herói!" - até uns mais cabíveis, - "Quando crescer vou casar com você!" - , mas com o tempo, com as mudanças que a vida nos proporciona, esses sonhos vão ficando para trás.
Não digo o sonho de casar, esse não vai mudar nunca, pelo menos não até eu encontrar um amor tão grande quanto o que eu senti por você. Sentia! Desculpa. Ainda tenho essa mania de dizer que te amo para mim mesmo, não se preocupa que ninguém mais sabe disso, só eu. Nem você deve mais sonhar com isso, pois sempre que visito os teus sonhos ele já está habitado por um outro alguém qualquer que não sou eu. Então acredito que agora é um amor sigiloso unilateral. Enfim, não importa mais não é?
Então, como eu dizia, joguei tantas coisas fora ontem. Me livrei de tudo o que me causava dor. É por isso que estou aqui agora, sentado na beira de uma estrada, olhando os carros passando, com um certo ar de desespero.
Mas não estou desesperado. Só tive que jogar as minhas roupas todas fora, queimei a casa, mas como sou uma pessoa honesta, liguei para o seguro antes para avisar que o incêndio era proposital e que eles não deveriam me pagar nada. Ah! Não se preocupa, chamei os bombeiros também.
Não suportava mais virar a esquina e avistar lá no fundo aquele gramado o qual nos amamos tantas vezes olhando às estrelas. Nossa! Era uma dor insuportável abrir aquela porta e sentir o teu cheiro cravejado nas paredes. Os móveis pareciam desfilar com as suas cores prediletas na minha frente. Não aguentava mais. E a secretaria eletrônica? Você acredita que liguei milhares de vezes para ela só para escutar a tua voz risonha falando que enfim estávamos na nossa casa, morando juntos e que quem quisesse falar era pra retornar daqui a mil anos pois tínhamos muito a namorar ainda? Pois é. Varejei ela pela janela e quando me dei conta ela estava lá no meio do gramado.
No nosso quarto eu não consegui jogar nem uma gota, por menor que fosse, do combustível que usei para queimar o resto da casa. Apenas fechei a porta e sai. Acho que tinha esperanças de poder voltar à ele com você nos braços novamente. Isso é, se ele sobreviver ao incêndio.
Bom, se ele sobreviver, tenho certeza que o nosso amor estará a salvo, dai então, essa carta não terá mais valor nenhum amanhã, pois não terei que entregá-la a ti antes de atirar-me do alto da ponte.
É isso, irei sentar aqui e esperar o fim do incêndio, então retornarei à nossa casa, se o nosso quarto estiver intacto, eu volto a te procurar para te dizer que eu preciso de você, pois terei certeza de que o nosso amor ainda estará vivo!
Ah! Só uma coisa eu não consegui deixar para trás. A nossa aliança. Aquela que você me devolveu na noite em que foi embora. A coloquei em um colar junto com a minha, aquele mesmo cordão de prata que me deu quando começamos a namorar, lembra?
Pois bem, eles estarão junto com essa carta embaixo da porta da casa dos seus pais. Afinal, não sei para onde você foi, então deixarei lá, pois foi lá que tudo começou não é mesmo? Nada mais justo do que terminar por lá!
Então, acho que é só. Gostaria apenas de dizer mais uma coisa.
Não deixa com que morram as nossas lembranças em ti, pois são elas quem estão me fazendo tomar essa atitude agora!
Eu te amarei incondicionalmente até no além. Lembra?
Fica bem!
Um beijo no cantinho da boca!

3 comentários:

  1. Nossa! Que texto!
    Senti cada sentimento que você descreveu aí, belas palavras, é como se eu estivesse vivendo ali no personagem.


    http://cgw-sonhoperdido.blogspot.com/

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  2. nossa muito bonito!
    É tipo a caixa de Pandora. Todos os males do mundo estão lá aprisionados sem nosso conhecimento.
    Enfim, adorei, toda a hisótia, os sentimentos...
    até me inspirou para fazer meu dever de casa! (crônica sobre terremoto do Japão)
    parabéns, como sempre!
    bjs!

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  3. Que triste...
    Mas até o amor tem seu lado ferino.
    =/

    Enfim...

    Lembro de vc!
    =D

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