quarta-feira, 30 de março de 2011

"13 - Sorte ou Azar?"

Ontem eu tive a reunião mais importante da minha vida, mas essa história começaria muito antes, mais precisamente treze meses atrás.
Era uma sexta-feira dia treze do mês de Outubro, o ano era o de dois mil e nove. Enfim, já deu para perceber não é? Dia propício para qualquer coisa dar errado, afinal, sexta-feira treze.
Sai de casa naquele dia por volta das seis e meia da manhã em direção ao aeroporto, iniciaria-se naquele dia uma corrida contra o tempo. 
Estava com viagem marcada para Los Angeles, iria assinar um pré-contrato com uma produtora de filmes, era o meu sonho se realizando. Para sair de um pré para um contrato propriamente dito com aquela produtora faltariam apenas pequenos detalhes, o importante mesmo era conseguir o tal pré-contrato.
No caminho para o aeroporto o primeiro sinal que o número treze faria parte da minha vida a partir de aquele dia, no rádio foi identificado um engarrafamento de treze quilômetros por conta de um acidente.

- O senhor teria como pegar outro caminho? Tenho urgência e não posso perder esse vôo.
Pedi gentilmente ao motorista do táxi que eu havia entrado.

- Não tem como não amigo. O senhor não reparou que não consigo nem mudar de faixa.
Retrucou resmungando o motorista.

De tão impaciente paguei a corrida até aquele momento, treze reais, e desci do táxi no meio da avenida.
Por sorte, ou azar, vinha passando um daqueles moto táxis. Não sei onde eu estava com a cabeça, com uma pequenina mala de viagem, andando de moto com um daqueles doidos motoqueiros de São Paulo.
Um percurso que levaria mais ou menos quarenta minutos de carro com um motorista equilibrado e o trânsito livre foi feito em apenas treze minutos por aquele motoqueiro. Isso mesmo, treze minutos.

- Aqui amigo, obrigado pelo passeio, pode ficar com o troco, e por favor, cuidado ao pilotar assim para não sofrer nenhum acidente.
Disse ao moto taxista agradecendo-o.

Ele apenas sorriu e saiu desvairadamente aeroporto afora.
Entrei no aeroporto, encaminhei-me ao check-in da companhia aérea para poder despachar a bagagem, no balcão. Uma linda senhorita me informava questões sobre o que eu poderia ou não carregar na bagagem de mão e todas aquelas burocracias impostas pelos norte americanos e pela nossa queridíssima Polícia Federal, pois na hora de nos encher o saco por pequenos detalhes eles sabem fazer muito bem, mas na hora de pegar político corrupto viajando com centenas de milhares de dólares na cueca eles fazem vista grossa. Enfim, prossigamos com a história.
No meio da conversa com a balconista, muito simpática por sinal, resolvi não sei por que cargas d'água lhe perguntar quanto tempo levaria para chegar em Los Angeles.

- O tempo de vôo é de aproximadamente treze horas senhor.
Respondeu-me com um sorriso na face.

Novamente o treze a perseguir-me. Após toda burocracia para entrar na sala de espera para o embarque sentei-me e fiquei escutando música. Enquanto as escutava, resolvi checar novamente se estavam todos os documentos na pasta dentro da mochila. Tudo conferido, o sinal de embarque imediato sendo dado, lá fui eu para a aeronave enfrentar as treze horas de vôo.

- Atenção senhores passageiros, Attention ladies and gentlemen. Preparar para aterrisar.Prepar for landing. O tempo de vôo foi de treze horas como previsto. Flight time was thirteen hours as planned....
Confirmava o comandante da viagem.

Peguei-me pensativo quanto ao treze naquele momento.
Chegando em Los Angeles fui direto ao hotel, pois precisava de um banho além de necessitar de uma refeição digna. No Brasil eram mais ou menos nove horas da noite no horário de desembarque, mas como indo para lá nós andamos para trás no fuso, então cheguei por volta das cinco horas da tarde no horário local. A reunião seria apenas na manhã seguinte, então havia tempo para um rápido passeio e um jantar. Enclausurei-me no hotel por volta das nove da noite e aguardei ansioso pela reunião que mudaria a minha vida.
Sábado de uma manhã ensolarada em Los Angeles, após um longo e relaxante banho, arrumei-me e fui ao encontro dos diretores da produtora. Ao chegar na reunião, não pude deixar de notar, doze cadeiras vagas para os diretores e uma para mim, total de treze pessoas. Novamente o treze. Meu projeto seria avaliado por uma bancada de excelentes profissionais. Isso mesmo, seria.
Após aguardar por alguns minutos, e não me perguntem por favor se foram treze minutos, uma das secretárias veio me dar o recado de que a reunião havia sido cancelada. Questionei o motivo à ela e a mesma me contou que o filho de um dos sócios da empresa havia falecido na noite anterior e que estavam todos no velório. Prontamente peguei o endereço de onde estava sendo realizado o velório e fui prestar as minhas condolências. Ao chegar no local, a surpresa, o garoto tinha apenas treze anos de idade. Conversei com algumas pessoas, mas não quis tocar no assunto do projeto, o que me rendeu o título de cavalheiro entre todos os diretores por virem me pedir desculpas e eu dignamente responder que não necessitávamos conversar sobre aquilo naquele momento.
A reunião não ocorreu, voltei ao Brasil na segunda com um pré-contrato assinado em mãos apenas pelo meu cavalheirismo e compreensão do ocorrido.
Começamos a trabalhar no projeto do curta-metragem que contava a história de pessoas supersticiosas, foram meses e meses de pesquisa, filmagens e reuniões. Os acionistas estavam cada vez mais ansiosos pelo fim do projeto e assinatura final do contrato.
Pois bem, após treze meses entre as filmagens e a edição final, vim trazer os resultados aos investidores, ontem, aqui em Los Angeles.
Extremamente supersticioso após tantas coincidências, solicitei que a reunião fosse marcada às treze horas do dia treze de novembro e fui atendido.

It is with great pleasure that I give to you first hand in. Mine, yours,ours, "13 - Chance or Fate?". (É com imenso prazer que entrego à vocês em primeiríssima mão. O meu, o seu, o nosso, "13 - Azar ou Sorte?").

O filme foi apresentado, todos adoraram, fui reverenciado. Enfim, um final fantástico. Esqueci-me apenas de uma formalidade, os papéis do pré-contrato que deveriam ser trocados pelos papéis do contrato, e depois disso tudo estaria selado.
Quer saber o que aconteceu? Não encontrei o pré-contrato de treze páginas previamente assinado.
Então cheguei em casa hoje com a promessa de que os enviaria por fax. Querem saber novamente o que aconteceu? Aquelas treze assinaturas que haviam naquele pré-contrato de treze páginas que deveria ter sido trocado por um contrato de treze milhões de doláres com uma das maiores produtoras de filme no mundo, simplesmente desapareceram.
Quando eu cheguei em casa, percebi que os papéis não estavam mais lá.
Então eu te pergunto:

- 13 , Sorte ou Azar?




****Texto participante da 60ª Edição de Conto/História do projeto Bloínquês .

Um comentário:

PAPOS E SUPAPOS

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