segunda-feira, 14 de março de 2011

Meu recomeço.

Parecia praticamente impossível abandonar a vida que eu levava. Um moleque que, mesmo com vinte e poucos anos, não tinha interesse em mais nada além de baladas, drogas, sexo. Escutei tanto dos meus pais e dos meus amigos que eu deveria largar aquela vida. Sentava-me, certas vezes, entre os meus "companheiros de balada" e na minha hora de "dar um tapinha" pensava se eu deveria aceitar. Era mais forte do que eu, sempre aceitava. Os olhos ficavam esbugalhados, vermelhos. Chegava em casa sempre aprontando e dando cada dia mais desgosto aos meus pais. Não esqueço o dia em que o meu velho foi lá na 7ª DP me livrar de uma roubada em que me meteram. Sempre fui muito consciente, usava as minhas coisas, mas nunca roubei para isso, mas daquela vez eu havia entrado pelo cano. Entrei em um carro de um daqueles caras que andavam comigo, minutos depois descobri da pior maneira que o carro não era dele, e que ele havia matado uma pessoa por isso. Meu pai me olhou nos olhos na prisão e disse: - "Se você não mudar as suas atitudes agora, você nunca será um homem de verdade, e nunca irá conquistar o meu respeito. Só estou te ajudando pois acredito que ai dentro dessa cabeça de merda que criou ainda exista um pouquinho do meu filho, da criança a qual eu sempre me orgulhei na vida. Você vai sair daqui e vai sair da vida da gente, não vai pisar em casa mais, e só vai voltar no dia em que tomar jeito. Me dói dizer e fazer isso, mas é a última alternativa." - Nossa. Aquelas palavras foram essenciais para eu tentar voltar a viver. Foi quando vim morar na casa de um amigo de infância, o Julinho, me abrigou em sua casa do outro lado do país. Acabei encontrando a pequena Maria, irmã mais nova do meu melhor amigo, que antigamente era uma menina, mas hoje se tornou uma mulher maravilhosa. Foi ela quem me salvou, namoramos por exatos trinta e dois dias até ela me contar que estava grávida. Comecei a trabalhar incansavelmente, saia de casa para estudar às 6 horas da manhã e só retornava após o trabalho às 11 horas da noite. A Maria enquanto isso apenas se cuidava, a gravidez era de risco. Após os nove meses da gestação eu já havia conseguido sair da casa do Julinho e levei a minha família comigo. Um apartamento pequenino que apelidamos carinhosamente de "apertamento". Mas era o nosso canto. Hoje, o Mauricio Neto está com 3 meses, me transformou. Ele é lindo não é? Olhem a foto. Essa é a foto do dia em que estávamos arrumando as malas. Estávamos indo visitar os meus pais, seria a primeira visita ao vovô e a vovó. Enfim eu poderia mostrar ao meu maior herói que consegui, me transformei em um homem como ele queria. Tudo bem que não fui um terço do homem que o meu pai foi, mas farei de tudo para que o Mauricio seja tão homem quanto o avô dele é. Só agora pude entender o quão fascinante é ser o herói de alguém.
Meu pai, meu herói. Minha esposa, minha anja da guarda. Meu filho, a minha chance de recomeçar, a minha chance de provar para mim mesmo e para todos que duvidaram que posso sim ser o herói de alguém também.



****60ª Edição Visual do projeto Bloínquês.

10 comentários:

  1. Nossa que lindo, eu gostei bastante.
    Lindo texto e muito comovente!
    Beijo Flaviu.

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  2. Tipo assim, TUDO A VER com a imagem,
    Quero te ver no pódio com certeza!
    Seguindo-te

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  3. Nada do que palavras frias e verdadeiras para fazer com que a gente acorde e claro, o amor que sempre está ai para nos salvar do pior. Ficou demais o seu texto, já li vários para esse semana do Bloinques e o seu ficou entre os meus preferidos. Parabéns pelo blog :D Volte sempre que quiser! Beijinhos :*

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  4. Eu que o diga, meu pai é mais que um heroi, e um dia quero representar pelo menos metade do que ele significa pra mim. Lindo texto :)

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  5. Texto lindo, bem forte e cativante. É real?

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. É que lá tava tudo branco, mas arrumei. Agora olha lá, tem até mais selinhos pra ti. Beijão!

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  8. Ainda bem que você alcançou. Muitos não tem força, outros simplesmente não têm coragem. Bom post ;)

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  9. Quando há amor e vontade de mudar, você pode tudo!
    Lindo texto e linda família Flávio.

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