terça-feira, 19 de abril de 2011

"Eu amo, incondicionalmente, você!”

Essa é a história de um palhaço que não mais conseguia sorrir. Andava perambulando pelas ruas sempre entristecido com as amarguras do seu existir.
Sentia que não havia mais de onde tirar alegria e via as horas do seu dia passar cada vez mais arredias.
Horas era visto nas praças, sentado, apenas observando às pessoas que caminhavam ao redor dele, outras vezes era visto caminhando ao redor das pessoas que estavam sentadas na praça observando-o esperando alguma palhaçada.
Mas nada fazia. Nenhuma reação a não ser a de observar.
Certa vez encontrara-se com o seu grande amor, sentiu um forte calor no peito, mas ela não o reconhecera, fazia tempo que eles não se encontravam e de certo ela passara, como sempre, distraída.
O pobre palhaço apenas a acompanhara com o olhar, e perdera-a de vista logo mais adiante, depois de uma esquina.
Ele então tornava a olhar para o horizonte perdido daquela praça onde tanto foram felizes.
Saía de um banco ao outro, de um canto ao outro, olhava pessoas conhecidas passando, mas parecia que não o enxergavam.
Por vezes fora capaz de ver amigos dos tempos idos chegando à praça, sentando por perto, mas nenhum deles lhe era capaz de cumprimentá-lo.
Lá pelas tantas do fim da tarde, já no início da noite, o pobre palhaço saía em caminhada até a sua residência. Debruçava-se sobre a sua cama e cochilava. Eram vários cochilos ao longo da noite, todos interrompidos pela ansiedade de alguém que lhe dizia um simples “olá” em seus sonhos.
Já acordava ansioso para conversar e contar seus “causos”. Era quando se deparava com o ar sombrio e gélido do seu refúgio.
Donde haveria de estar àquela alegria que contagiava a todos que por perto chegavam?
“E palhaço chora? Não era ele quem tinha a capacidade de transformar tristeza em alegria? Lágrimas em sorrisos?”
Pois sim, esse palhaço chorava. Mas era um choro diferente. Não havia lágrimas, mas também não existiam sorrisos. E um palhaço perder o sorriso é o mesmo que ele estar chorando.
Por vezes ele confessara que se sentia um vampiro, se olhava no espelho e não havia reflexo, pois palhaço quando se enxerga no espelho, ele está enxergando a sua alma, o seu espírito, mas nem isso aquele pobre palhaço conseguia mais.
Antes de sair de casa, fazia poses frente a um espelho, tentando lembrar como era fazer rir, como era sorrir sozinho. Porém, todas as poses tinham um ar melancólico, como se tivesse perdido a magnitude de saber sorrir.
A essência daquele palhaço havia partido com a última chuva que pegara. Uma tempestade de sentimentos que assolaram seu chão e o fez afundar nas lembranças.
Ele então, um dia, encontrara algumas fotos de tempos cheios de sol, brilho, vida, onde ele e a sua grande amada saíam a aprontar ”xurumelices” por onde passassem, era um ciclo vicioso, aonde chegavam havia do que sorrir e para quem sorrir, aquela época fora a dos seus melhores e mais sinceros sorrisos.
Neste mesmo dia, o pobre palhaço ergueu-se da cama e exclamou ao espelho.
“Oi tudo bem como vai? Bom dia!”
Um singelo sorriso veio ao canto da boca. Ele enfim podia novamente enxergar-se no espelho, apressou-se em sair de casa e fora à praça, sentou no mesmo banco onde se sentara durante os últimos meses inteiros, e pôs-se a declamar aquela mesma frase a todos que passavam.
Passaram uma jovem mãe, linda, loira, com o seu belo nenê, que por volta dos seus dois aninhos caminhava feito um homenzinho de mãos dadas com a mamãe.
Aquele rosto lhe era familiar, e aquele bebê também, mesmo sem se recordar de onde o conhecia, ele cumprimentou-os e recebeu em troca os dizeres.
“Tio!”
Mágica? Sim. Não pelo fato daquela criança tê-lo chamado de tio, mas pelo fato daquele pequeno ser tê-lo reconhecido e o feito se lembrar de onde conhecia aquele lindo bebê.
O pobre palhaço levantou o olhar para a mãe do neném e a reconheceu, era a irmã do seu grande amor, e o pequeno, bom, era quem ele carregara tantas vezes com tanto amor e carinho que um tio de verdade daria.
Ela abriu um sorriso contagiante e o abraçou fortemente. O fez sentir um enorme calor crescendo dentro de si e por horas conversaram recordando-se de momentos bons. Então ela partiu e pediu que ele enviasse notícias sempre.
Naquele dia o pobre palhaço deixara as tristezas de lado, voltara a sorrir graças a mágica de um pequenino ser, voltara para casa com o coração novamente cheio de esperanças.
Essa noite o palhaço não conseguira dormir, rodava a casa inteira ansioso pelo nascer do sol. Sentava-se à janela esperando aquela coisinha laranja surgir no horizonte, ansioso por sair de casa novamente.
Foi ai então que o sol despontara, ele se animou e foi à rua, voltou à praça, certo de que era o caminho que a sua amada tomaria para o trabalho. Aquela altura ela já havia tido notícias através da sua irmã, de que ele estaria por lá novamente.
Ficou o dia inteiro a desejar bons dias aos outros, e seu olhar brilhava intensamente a cada pessoa que surgia na esquina. Porém nada acontecera, as pessoas passavam, umas sorriam outras nem respondiam, e a pessoa a qual ele esperava, não chegara!
Passaram-se dias, semanas e até meses novamente, e ele não a encontrara. O palhaço voltara a ficar triste, sentava-se já sem esperanças, olhava para as pessoas que passavam e meio desanimado já dizia como antes, aquela velha frase.
“Oi? Tudo bem? Como vai? Bom dia.”
Aproximava-se o fim do ano, lá pelos meados do último mês e o palhaço resolvera que seria a última vez que sairia de casa novamente. Após aquele dia ele não mais retornaria aquela cidade, quiçá aquela praça.
Chegara à praça por volta das oito da manhã. Sentara-se no mesmo banco que havia sentado os últimos três anos e ficara imóvel, com o olhar perdido novamente no horizonte.
Por volta das doze horas da manhã, horário de almoço de muita gente, uma pessoa sentou-se ao seu lado e perguntou.
“O que acontece com o senhor? Que todos os dias eu passo caminhando por aqui, respondo aos seus cumprimentos, mas você parece não me reconhecer mais! Esquecera mesmo de mim?”
O pobre palhaço então respondeu.
“Perdão minha jovem, mas é que venho tentando reencontrar o grande amor da minha vida esses últimos dias, esse último ano todo para ser mais exato, mas ela não passa mais por perto, e a única vez que passou não me enxergou! Até tive contato com a irmã dela, criei novas esperanças de reencontrá-la depois de contar à minha ex-cunhada tudo o que sentia e que eu estava passando, mas parece ter sido em vão. Hoje é o meu último dia nessa praça, não mais voltarei.”
A jovem sorriu, cutucou-o de uma forma que ele só havia sido cutucado por o seu grande amor, e disse.
“Oi! Tudo bem? Como vai? Bom dia!”
Ele levantou a cabeça e lá estava ele diante do seu grande amor.
“Você disse que eu cumprimentei a ti todos esses dias!”
Então a jovem sorrindo com lágrimas nos olhos respondeu.
“Sim, eu te vi todos esses dias, com exceção do dia em que passei distraída, mas como eu estava de máscaras todos os outros dias, você não me reconhecia. Mas hoje, dia do seu aniversário, eu tinha que encontrar um método de você me reconhecer novamente, e me olhei no espelho, descobri que tinha que ser eu mesma novamente, então voltei, por sua causa.”
O palhaço então, olhando nos olhos da jovem, com lágrimas de verdade nos olhos e com os raios do sol brilhando em seu sorriso declamou.
“Eu tentei, desde o fim, iniciar um não te querer! Eu lutei, desde o fim, derrotar o meu amor por você! Mas fui derrotado, chorei, perdi a minha alma, não havia mais chão para pisar, o meu sol deixara de brilhar, e quando eu tentava sorrir, as lágrimas no peito insistiam em rolar. Não quero te prender a mim, não quero que sejas infeliz ao meu lado, mas eu precisava te olhar nos olhos uma última vez e te dizer que eu não sei ser outro ser se não ser o ser que ama você! Eu amo, incondicionalmente, você!”

3 comentários:

  1. É besteira lutar contra o amor... Ele sempre vence!!

    xD

    Lindaaa história!!

    BJuuu =*

    Tânia'

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  2. Que coisa linda, o amor venceu no final *-* Você podia fazer uma poesia do "Sorria" pra esse palhaço, aposto que ele ficaria muito feliz, haha :)

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  3. Nossa Flávio! Que lindo isso.
    O palhaço perdeu o sorriso, perdeu seu sentido. E depois, ele os encontrou. A encontrou, o seu amor. Seu sorriso, seu sentido.

    Gostei de verdade, mesmo. Você tem a capacidade de me fazer pensar além da minha 'capacidade pensativa', que dom é esse menino? Meus parabéns Sr. Catão *-*

    Um beijo.

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