sábado, 2 de abril de 2011

Uma dor que não para de doer.

"Ontem te vi depois de anos, na verdade não eram anos e eu não cheguei a te ver, mas te senti tão perto que só faltou o teu abraço para eu me sentir melhor.
Quando te vi chegando, fiquei ansioso esperando o seu cumprimento, sentei-me e fiquei a te encarar de longe.
Já tinha feito isso outras vezes, mas você não havia me visto e não falava comigo, porém ontem foi diferente, ontem você me enxergou até rápido, e veio logo falar comigo, parecia estar adivinhando que eu precisava do seu conforto.
Então deixa eu começar a te contar o que não tive a coragem de te falar.
Lembra-te do sonho de ser pai? E do sonho de ser pai de um filho teu? Pois é. Ele foi por água abaixo. Não pelo término da nossa relação, pois esse eu sei que é por pouco tempo. Ainda sinto que não teve um fim.
Essa semana fui ao médico fazer exames de rotinas, achava que nada iria atrapalhar uma semana praticamente perfeita, mas ontem, no início do dia veio a notícia, creio que a pior que já tive na vida.
Por algum motivo ainda incompreendido por mim, um dos medicamentos que me foram receitados ainda na infância havia feito algo terrível com o meu futuro, tirou-me praticamente todas as chances de ser pai.
É uma notícia terrível, não consegui arrancar forças nem para me levantar da cama hoje. Quando te vi chegar ontem, consegui esconder atrás dos meus sorrisos toda a verdade dolorosa que eu estava sentindo, mas por pouco tempo e, para não acabar te contando, levantei-me, disse até logo e fui embora.
Embora entre aspas, apenas me afastei de ti e fiquei observando-te e de longe chorando com a dor de uma criança, uma criança que não mais poderia ser gerada por mim.
Até agora dói muito, mas consegui controlar-me para não te colocar na mesma dor que eu. Não quero te fazer sofrer, não por minha causa. Não fui capaz de fazer isso enquanto estávamos juntos, não o farei agora que estamos caminhando para um novo início de amizade.
Eu precisava desabafar com alguém, foi ai que encontrei esse lápis e esse papel amassado no fundo do meu guarda-roupa. Engraçado como o tal do destino resolve interferir sempre na vida das pessoas, esse papel foi uma carta de despedida que me entregara em um dos meus últimos dias ao seu lado. Nele há uma frase que você diz: - Não te esquece que poderá sempre contar comigo, e quando voltar para cá, eu estarei te esperando. Eu te amo incondicionalmente! - Foi ai que notei que não poderia deixar de te avisar isso.
Ainda estou distante e sem previsão de retorno. Estava até me adaptando a nova vida, nova casa, os "novos" amigos e até as novas pessoas que se prontificaram a tentar chegar aos teus pés.
Estava indo tudo muito bem, até ser bombardeado com essa notícia.
Chorei ao ler o prontuário médico, chorei ao receber a confirmação do médico, mas chorei mais ao sentar-me na beira do mar e não saber o que fazer. Me senti incompleto. Já vinha me sentindo assim há tempos, já sabia o que me faltava, mas agora, aquela história de ser um pai maravilhoso, ela me machuca mais ainda.
Queria o teu colo, o teu abraço, o teu cafuné.
Os teus olhares, os teus afagos e tenho certeza que ao teu lado eu teria também as tuas lágrimas!
Perdão por não poder ser tão completo quanto um dia tu pensaste que eu era. Perdão por não ter cumprido metade das promessas que te fiz enquanto estávamos juntos. 
Eu só quero ter certeza de que não esquecerá nunca o quanto eu amo você, o quanto eu amarei, incondicionalmente, onde quer que eu esteja!
Não posso suportar viver com a dor de não te ter e com a dor de não poder ser completo. É uma dor que não para de doer.
Me perdoa por estar sendo um fraco, mas tenho que jogar tudo para o alto!
Seja feliz."

Essa carta foi encontrada ao lado do corpo de um jovem de vinte e sete anos que vivia, aparentemente, distante do grande amor da sua vida. Ele foi encontrado em uma praia na cidade do Rio de Janeiro com um saco ao redor da cabeça, aparentemente faleceu por falta de ar. Ele não deixou nome, não deixou endereço à quem pudéssemos entregar a carta, acredito que publicando-a poderemos encontrar a verdadeira dona. Enquanto isso, ficaremos com a dor de não saber como podemos ajudar.

Ficaremos em silêncio!

Obrigado pela ajuda.

2 comentários:

  1. Brilhatemente escrito e muito triste! Deve ser algo horrível "ver" um sonho perdendo as possibilidades de tornar-se real.
    Eu, simplesmente, fico encantada com seus textos Flávio *-*

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  2. Tu tens razão, muito triste esse teu texto, mas tão bem escrito, transcorreu tão bem... É também muito belo, valeu a pena ter lido. Tengo medo extremo de abrir um exame, e receber uma notícia assim :/

    Enfim, beijão!

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