domingo, 25 de março de 2012

Real.

Aquele temido som vinha lá do fundo do corredor branco, gélido e vazio do hospital. Os passos dados, antes apressados, agora pareciam não ter mais pressa de chegar àquela porta.

Era um apito agudo que minava as minhas forças e fincavam ainda mais os pés no chão. Um tipo de força que me prendia e não me deixava chegar ao objetivo final.

Olhava para os lados e nada conseguia enxergar. A visão fora tomada por uma quantidade absurda de um líquido salgado que parecia irritar as vistas.

Ia a cada passo mais amparado pelas paredes do corredor e o som, cada vez mais próximo, dizia-me qual seria o ponto final.

Parei diante da porta de onde vinha o som, uma daquelas de hospital que tem uma janelinha na frente que nos permite ver todo o interior da sala.

Lá dentro estavam algumas pessoas reunidas com as mãos dadas, todas de olhos fechados, não conseguia escutar exatamente o cântico delas, mas parecia ser um tipo de ritual.

Elas pareciam não escutar aquele apito insuportável, e eu cada vez mais surdo com aquele barulho, passei a não mais escutar nada!

Dei dois passos para trás, recostei-me na parede e deixei o corpo escorregar até que caísse sentado.

Tentava com as mãos tapar os ouvidos, mas o som parecia querer atingir a minha alma e não me permitia isso.

Em questão de segundos, algumas pessoas também chegaram ao quarto, passaram tão rápido por mim que nem devem ter me notado.

Com exceção de uma pequenina e linda menina, que devia ter mais ou menos quatro ou cinco aninhos.

Loirinha, de cabelos cacheados, uns olhos castanhos claros enormes, linda! Eu a reconhecia de algum lugar, mas não conseguia recordar-me de onde.

Ainda atordoado com o barulho, pude ver aquela linda criança estender a mão até mim e convocar-me:

"Vem papai, está tudo bem agora!"

E ao tocar as mãos dela pude sentir todo os barulhos pararem. O silêncio reinou.

E eu pensando comigo: "Ela deve estar me confundindo com alguém!" - Mas mesmo assim não conseguia soltá-la, não conseguia parar de olhá-la.

Caminhamos no sentido contrário ao quarto, e já próximo da saída do hospital, aquela princesinha me olhou nos olhos e disse: "Esperei tanto por esse dia papai, e agora você está aqui comigo. Estou muito feliz!"

Ajoelhei-me no chão e a olhei nos olhos. Foi ai que reconheci, era ela, a minha filha que não pude, por erro e fraqueza minha, vê-la nascer.

A menina a qual todas as noites eu orava e chorava em silêncio pedindo perdão por tudo o que eu havia feito de ruim.

Eu finalmente havia ganhado o meu perdão. Finalmente havia conseguido seguir adiante, em paz.

Dei-lhe um abraço apertado e saímos, caminhamos em direção a uma luz muito forte e logo em seguida um lugar lindo.


Enquanto a observava correr, sentei-me no pé de uma árvore e chorei agradecendo a toda vida que tive e mais ainda por ter tido a honra do perdão do delito mais grave que cometi.

Fora a noite mais sensacional da minha vida, e hoje, dormirei feliz esperando ansioso por encontrá-la novamente!

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